Pra variar, cheguei atrasado.
Parece que o Brasil – e o mundo – já cansaram de falar da tal “Oração”.
Meus chapas Forasta (R7) e Álvaro (Folhateen) fizeram textos sobre o fenômeno há cinco dias. Uma eternidade.
Eu tinha decidido não escrever nada sobre o tema. Mas foram tantos os pedidos – juro, recebi uns 20 e-mails – que resolvi arriscar, mesmo sob risco de soar datado ou repetir o que já foi dito.
O que achei de “Oração”?
Olha, sinto desapontar os indies revoltados de plantão, mas a coisa toda não me repeliu, como a muita gente.
A música é fraquinha. Mas não é pior que as criações de Mallu Magalhães, por exemplo.
O vídeo é bem feito, bem filmado, embora não tenha uma idéia original.
Muita gente tem chamado a banda de “infantil”, “ridícula”, e outras coisas piores. Mas eu acho que é quase uma obrigação do jovem ser ridículo. Vai me dizer que você olha uma foto sua adolescente e diz: “Nossa, que pessoa cool e descolada?”. Aos 17 anos, ser ridículo é um dever cívico.
Agora, assistir ao clipe todo foi um parto. Tem umas coisas ali que são verdadeiros obstáculos.
A primeira imagem já é dura de agüentar: um projeto de Caio Blat olhando pela janela, ruminativo, em contraluz, segurando um... um... um o quê? Que coisa é aquela na mão do cara? Um smartphone? Um marca-passo? Um controle remoto de ar condicionado? Um vibrador?
Poucos segundos depois, aparece um sujeito de chapéu, sentado na cama. Pára tudo! (sei que a nova ortografia pede pra tirar o acento, mas ainda não me adaptei): o último homem com o direito de usar chapéu foi o Humphrey Bogart.
Juro que, da primeira vez que vi o clipe, não consegui assistir até o final. E a culpa não foi da música ou do chapéu do sujeito, mas de um estranho fenômeno psicológico que ocorre comigo, às vezes, e que bloqueia todas minhas funções motoras e mentais: a alegria coletiva.
Eu não agüento alegria coletiva. Me paralisa. Ver grupos de três ou mais pessoas exalando felicidade, por mais paradoxal que pareça, me deprime.
Alguns exemplos:
Jogos de vôlei: parei de jogar vôlei quando descobri que eu precisaria abraçar todos os jogadores do time em todos os pontos.
Festa de firma: a gente já sabe como acaba: com o chefe de gravata na cabeça, dando em cima da estagiária.
Viagens de turismo guiadas: Nada mais deprimente que seguir um guia segurando uma bandeirinha para não se perder do rebanho.
Refeições coletivas em restaurantes: Doze pessoas, doze pratos diferentes, brindes “à amizade”, pessoas tirando máquinas de calcular para somar a sua parte, e os inevitáveis espertalhões que tomam 15 chopes, deixam cinco reais na mesa e precisam sair correndo para “um compromisso”.
Bom, é isso. Espero ter trazido algo de novo e útil à discussão.